sábado, 19 de dezembro de 2009

s'eu fosse deus por meia horita...

Se Deus fosse uma mulher, o céu, nesta época natalícia, estaria cheio de luzinhas e fitinhas coloridas e chocolatinhos engalhados nas nuvens. Mas Deus é do sexo masculino e gosta das coisas rudes.

Foi Deus quem criou o mundo, e quem criou Deus? Bem, aviso já, eu não fui, aliás, nem sei se talento teria para tanto, além de que tenho a vida muito ocupada e não teria tempo sequer para engendrar tal preciosidade. Não duvidemos da Sua existência, nem da minha, nem da que vai vir a seguir.

Todas as existências são dignas de ser rotuladas. A mim, por exemplo, já me chamaram de tudo, menos de Deus. Ainda bem, porque desse modo teria uma carga imensa nas costas.

Não me imagino trabalhar 24 horas diárias, sem vencimento, sem intervalo para fumar um Ventil, ter que ajudar o próximo quando ele está muito longe, avaliar dossiers de pecados e decidir qual sentença a dar, lançar raios lá de cima para assustar os automobilistas que vão acelerados. Ter que ter um dia por semana para falarem de mim sem consentimento.

Portanto, eu não daria um bom Deus, a preguiça mata-me aos poucos e, inclusive, o médico disse-me que isso não se trata com aguardente.
Mas eu insisto, e tenho fé que os bagaços me lavem a alma de certas e determinadas feridas que surgem do nada, e que categoricamente se alojaram algures na minha medulazinha. Só o bruxo é que anda lá perto de me dizer a verdade, mas esse, pede-me um dinheirão pela consulta. Portanto, quando passo à sua porta, acelero o passo, em estilo rock n’roll.

Depois, porque, quando não há culpados no meio de uma cena, Deus passa a ser o presumível autor de todas as culpas. Quem foi que fez este trabalhinho sujo? Quem mandou este tsunami? Alguém diz: foi Deus! Quem pegou no dinheiro dos contribuintes? Foi Ele!
Vedes como tenho razão. Nos dias que correm ser Deus é uma tarefa que nos pode custar meia dúzia de depressões malignas. Só alguém com muita capacidade mesmo, e possuindo estofo para aturar as manias dos homens, consegue dar despacho à coisa.

Eu não estou para isso. Talvez daqui a vinte ou trinta anos, quem sabe, se o lugar estiver vago, até que me posso candidatar ao trono, mas até lá vou me envolvendo em aventuras e desventuras, com esta e com aquela, um misto de prosa com poesia, com contas a pagar e contas a receber.

Definitivamente, ser Deus traz poucas recompensas. Primeiro, não se tem acesso a entrar numa discoteca, a não ser que se barbeie. Segundo, sabe lá Ele distinguir um arroz de pato de um arroz de cabidela. Certamente come tudo sem paladar. Mas, esperem lá! Ah, se eu fosse Deus por meia horita, juro que o F.C. Porto havia de ficar vinte anos sem ganhar nadinha, para ver o que é bom para a tosse. Desviava todas as bolas que fossem à baliza do Benfica. Estou farto de levar tanga!

Depois, engendrava uma diarreia nacional para todos os políticos deste país, era assim que os veríamos com olhinhos de calamidade. Ehehe, e rir-me-ia também ao ver os lutadores de boxe aos abraços e beijinhos. Ora bem, vistas bem as coisas, até que seria divertido estar no papel de Deus. Basta um pouco de imaginação e o que não falta é bons momentos para se distrair.

Imagino assim de repente, com aquela capacidade de omnipresença, espreitar as contas do país e ver quem tirou mais. Olhar a cara de um, que nos parecia dos nossos, e espantar: também tu!
Ou então, assistir aqueles diálogos entre árbitros de futebol e presidentes de clube. Até que seria divertido ver alguém a assinar um cheque e a perguntar: por quanto é que fica um 2 a 0? E espetar um caguefe ao Bin Laden? E achar a Madelleine e ficar com o dinheiro da recompensa? E proibir que as mulheres se vistam?

Mas como isso não é possível, limito-me a ser eu, euzinho da silva, a comer gato por lebre, até que um dia chova no meu quintal notas de 500 euros. Meia horinha só. Não peço mais. Acha que é pedir muito? Então, bora lá rezar com força.

Nenhum comentário:

Postar um comentário