domingo, 27 de fevereiro de 2011

As três irmãzinhas

Andou no seminário e graças a Deus que deixou o curso a meio, caso contrário, hoje estaria vendendo missas ao preço da monarquia. Deixou porque se apaixonou pela Lolita, a mais nova de três irmãs, uma comunista de primeira e que passava tardes inteiras a pintar panfletos insultuosos contra o regime.
O Bilinho adorava esse seu lado de querer partir tudo, de num grito estourar os miolos a meia dúzia de novos riquenhos que exibiam os seus Bentleys em plena avenida. Depois à noite, na cama dos dois, era outra a conversa, de leoa acesa e feroz e compulsiva e imaginativa passava a gatinha obediente e meiga e etecétera e tal. E foi por assim dizer que deixou a sua vocação de lado. Trocou a batina por uns jeans esfarrapados, as leituras sagradas pelo Marx. O celibato foi-se. Mudou de rezas mas não acertou no totoloto. Sim, nem tudo são favas contadas. A Lolita tinha uns ataques a meio da noite, sonhava com revoluções e com assaltos ao arranha-céus, e esperneava como uma louca em estado avançado. Depois acalmava e exigia que fizessem amor sem lógica nem devoção até caírem para o lado, de exaustos. No dia seguinte ficava branca de lembranças e, vendo-se nua, perguntava-lhe em estereofonia arrepiante, o que é que ele lhe tinha feito. O esquecimento dela fazia o Bilinho sentir-se um aproveitador.
Mais ou menos isto.
Não sabe.
O que sabe é que tudo estava encaminhado no sentido de se enlaçarem matrimonialmente quando, um dia, um outro dia, conheceu a irmã dela, a do meio, uma piolha linda como o sol do meio-dia, também ela acabadinha de sair da puberdade, fresca como uma tangera, pescoço alto onde nenhum dente foi lá morder ou tirar medida. Seu nome é Melissa, mais conhecida por Mel. Até nisso o nome cabia-lhe que nem uma luva, pois de mel era todo seu corpo na sua colmeia. Quando a viu, de cabelos ao vento, saia curta a mostrar que o que é bom é para se ver, em cima de uns tacões altos, ó ó, a sua honestidade foi-se, como quem diz, passou a desejá-la lá no seu íntimo, como um fruto proibido. Ainda por cima, deu-lhe bola, sorrindo para ele com os seus dentes alinhados, ao contrário dos seus. Houve ali qualquer coisa que não sabe se foi Cúpido ou não. Fosse quem fosse, lançou sobre eles as melhores intenções. E como de intenções anda o mundo cheio, passaram aos factos e actos. Era sim uma musa com todos os predicados que o punha sujeito ao verbo enlouquecer. O problema é que em tudo na vida existe um senão. Neste caso um senão maldito que até há vergonha em contar. Mas pronto aqui vai. É que a Mel, apesar de poderosa na sua beleza, tinha um quê: largava-se muito. Não sei se estão a entender. Ó pá, dava umas farpas valentes que o até ouvido do Bilinho dava rodopios e que inclusive durante dias passou a usar algodão nas orelhas. Aquilo parecia castanhas a estourar no forno!


Ainda por cima era sempre no momento em que. Sim, a Melissa peidava-se! Isso desconcentrava-o bué, e caía do ponto alto do entusiasmo tal como um fruto cai na terra. Não sabia como acontecia, mas que acontecia, acontecia. A sua vontade era de pôr-lhe uma rolha, mas, em vez disso, foi confessar-se à mais velha das irmãs, contar-lhe os seus azares quando, na primeira troca de olhos, logo viu que era tanto ou mais pecadora do que ele, daquelas que é só alçar a perna. A Becas, uma maria-papoila de traços morenos, sobrancelhas milimetricamente desenhadas, lábios enchidos a silicone, nariz mudado, adepta do botox, extensões no cabelo, tatuada no fundo das costas. Só em mamas é que sai ao pai. Enfim, uma beleza artificial mas que na realidade dava vontade de explorar a fundo, tipo um mineiro de corpos. A Becas, em cada vinte minutos falava dezanove. Gostava muito de conversar e saber coisas. A verdade é uma, entre eles silêncio não havia, nem quando uniam joelhos. A quarentona era um autêntico papagaio mal amestrado. Só falava de beleza e de cosméticas e de melhoramentos faciais e de peles no pescoço e do raio que a parta! Becas, cala-te! Aquele zumbido a toda a hora deu cabo do seu non sense.

A esta altura, o Bilinho de religioso já não tinha nada. Era um talibã com vontade de a esganar. Cala-te Becas! E a Becas sempre a falar, a palrear. Resultado: deixou-a a falar sozinha. Acho que ela nem deu por nada, mas pronto. Nos caminhos da sua solidão, pensou: esta família está possuída! Então quis saber a raiz do mal, o gene da coisa. Foi à casa das três irmãzinhas falar com a mãe delas. Depois de entrar, eis que a viu: a dona Micas, sessenta anos às costas, cara honesta, um luto inimaginável, certamente repleta de teias de aranha lá na luz de Vénus. Ao saber das suas mágoas, a matriarca ofereceu-lhe o seu bom colo. O Bilinho aceitou isso como quem nos oferece um copo de vinho de bom grado, mas não foi por muito tempo, apenas o tempo de sentir um pau a crescer lá para as bandas do traseiro e a verdadeira dona Micas entrar de rompante, quebrar a cena, e dizer: ó home, lá tás tu outra vez a brincar aos carnavais!

domingo, 13 de fevereiro de 2011

sete mulheres...e meia!

A pior surpresa que tive na vida foi quando espreitei as colegas de turma nos balneários após uma aula de educação física. Fiquei a saber que a Mariana afinal é torta de ancas e, vi logo que é daquelas que ao primeiro filho fica completamente escangalhada.
O que me cortou a tusa e consequentemente acabei o namoro de quatro meses com ela. De facto as roupas enganam muito, só assim percebi por que é que ela nunca me deixava pôr a mãozinha marota lá pelos meandros.
Mas não foi o fim do mundo. Afinal de contas, segundo o que dizem para aí, há sete mulheres e meia para cada homem, facto este que me alegra bastante, e a esfregar as mãos uma contra a outra (mas sem nada no meio).
E foi mesmo. Depois da Mariana veio a Valéria. Mulher de um porte que, segundo uns filhos da mãe, daria para dois ou três. Mas os meus ciúmes eram notórios e, num olhar de trovão, afastava a caça dos inimigos. Por exemplo, se acaso estivéssemos numa mesa de café - eu mais a Valéria - e um amigo meu viesse falar sobre qualquer merda, antes de qualquer mas, eu punha-o a milhas num fósforo.
Não era para menos.
A Valéria tinha umas mamas que quanto a mim tinham um poder de hipnose, pois quanto mais eu olhava mais queria olhar. Elas criavam apego. Como os ciúmes nunca levaram ninguém a lado nenhum, óbvio que acabámos por romper.
Evidente que andei numa tristeza enorme, a praticar indecências em casa à custa das recordações com ela.
Deus prendou as brasileiras com uma bunda, às portuguesas, cortou-lhes à traseira para aumentar à frente. Duas generosidades distintas, em que, se se conseguir a sua união,voilá, faz-se o milagre!

E duas já lá vão.
Aos trintas e cinco anos veio a Marta que, nem tanto à frente nem tanto atrás, dava explicações de inglês, e o dinheiro que ganhava investia em livros didácticos e às vezes entretinha-se a construir aviõezinhos que vinham aos pedaços em revistas de especialidade. Não que eu não goste de montar, mas aviões? De papel e madeira?
Por favor! Todos sabem que sou perito em outras montagens. Aquilo acabou por me cansar e dei-lhe com os pés, mas em inglês, com um simples bye-bye.

Como pessoa sensível que sou (com provas dadas no estrangeiro), pois no fundo nutria sentimentos de cima-abaixo de cima-abaixo pela Marta, andei a chorar pelos cantos.
E foi num desses cantos que a Irene me veio dar consolo mais as suas piranhas de estimação. De início juro que me assustei.
Acho que foi a primeira vez que executei um flic à rectaguarda sem estar com os copos.
A moça era criativa. Tanto fazíamos amor em cima do carro dela como em cima de um pinheiro.
Aliás, por causa desta última sofro de bicos de papagaio e, nas mudanças de estação, é o caralho. A situação tornou-se insuportável desde aquela vez que a Irene quis fazer no jardim zoológico, ao pé da cela dos macacos para, segundo ela, comparar o romantismo. Meu e do macaco.
Chamei-lhe quantos nomes havia e regressei a casa com os patins que ela me oferecera nos anos.
E lá vão cinco!
Andei bastante tempo sozinho e, por andar bastante tempo sozinho houve quem desconfiasse que eu estaria dando em morcão. Diziam-me, estás velho Jorge da Conceição, o teu tempo de antena acabou.
Para mostrar que ainda os tenho no sítio, que isto não é só aparências, decidi voltar aos combates, aos ringues e, no primeiro assalto, numa disco lá para os lados de Alvito S. Pedro, dei uma investida numa loira, embora, e contra muito que se foi falado sobre mim a esse respeito, as loiras nunca me tiraram do sério para o amor.

Desde puto que tenho a teoria de que as loiras peidam-se muito, e não sei por quê, não me perguntem, nem me chamem nomes. Mas acabou por acontecer. A Zélia era um bom petisco, cheiinha dos lados mas deu para o que eu quis e algo mais.
Sabia contar histórias infantis e eu, fino como um rato, adormecia sobre os peitinhos dela, recebendo carícias na careca, pois o meu cabelo foi dar uma volta quando tinha dezassete anos e nunca mais voltou. Só tinha mesmo atrás umas farrepas à Rolling Stone. Enfim, a zelinha era um doce, só com o senão de ela não se deixar comer.

Eu bem que lhe dizia que a coisa pelo meu lado era séria, que a boda podíamos marcar já, ou, em último caso, se ela quisesse, eu podia ir a casa dos pais dela, mas a Zélia, como boa catequista que era, queria seguir todas as normas educativas e sociais e religiosas. Ora bolas! Deus tinha de estragar tudo mesmo no momento em que…! Fartei-me das normas e, educadamente, mandei-lhe à merda, para a puta que a pariu, badalhoca, gorda.
Ela estendeu-me uma mão e eu estendi-lhe outra. Ficámos quites. Soube mais tarde que ela se casou com um primo com umas normas tão grandes que há quem diga que ele vira para os dois lados. Sem demagogias, que sejam muito felizes mas que não me venham pedir centavo.

Depois papei a Mónica. Essa sim, toureava como gente grande. Tanto toureava que me acabou pondo uns cornos bem visíveis do espaço. Pensei, que se lixe, mais vale um bife bem passadinho de vez em quando do que carne dura todos os dias. Não aguentei os boatos e zarpei para uma terrinha bem recatada, um sossego tal que a minha verga mal se levanta.
Sei que já lá vão sete e, coisas do diabo!, e não é que uma anã anda perdida por mim?, que quer coisas...?
E logo pensei numa decisão: vou, não vou, vou, não vou. Agora desculpem-me mas, o que eu decidi não vou aqui relatar por motivos…supersticiosos, ou melhor, normas educacionais!



terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Estou amando uma Yamaha

Neste momento estou amando uma Yamaha de 750 Cc, duas rodas capazes de arrancar alcatrão à primeira aceleradela. Uma verdadeira beldade que qualquer um dos meus amigos gostaria de pôr o rabo em cima. Mas estão ali muitos salários investidos para a deixar num brinquinho após vários consertos e autênticas cirurgias para trazê-la de novo à vida. Está como nova! Não a troco por mulher alguma deste planeta. Somos inseparáveis. Só ela consegue dar nas vistas mais do que uma mulher toda produzida. Aquele seu cantar de escape mais parece um quinteto de violinos. Outro dia pisquei o olho à Lice, minha vizinha, e ela quis experimentar o que são duzentos à hora na estrada que liga Barcelos à Póvoa do Varzim. E fomos até à costa litoral, levados pela força do vento, pela minha destreza em curvar quase deitado, a ir em contramão. Ela agarradinha ao meu casaco de motoqueiro, e eu, cheio de moral até dar com pau; e a minha Yamaha a meter respeito aos automobilistas que mal nos viam passar, tal era a velocidade que, por vezes, as mãozinhas da Lice descaíam para sítios que não deviam. Eu tinha de alertá-la, tem calma Lice! Chegámos à Póvoa e fomos ver o mar que não estava bravo nem calmo, estava assim-assim. Encostei a Yamaha ao pé do bar do Jota, dei uma moeda ao drogado para tomar conta dela e convidei a Lice a ir molhar os pés nas ondas do mar. Ela aceitou, e eu, ao olhar uma belíssima rocha, por momentos pensei, o bom que era…ok, deixem para lá. Afinal de contas a Lice é minha vizinha, e com vizinhas, desde que um primo meu se meteu em encrencas do género havia feito uma jura que com elas, só para pedir talheres emprestados. Isto, apesar de a Lice, no corpo ter todas as medidas como manda a lei, na voz, a coitada é mudinha. O ar da praia estava com uma pronúncia de calor que só me apetecia tirar a camisola mas, como ainda faltavam três meses para o verão propriamente dito, os meus bíceps estavam em baixo. O que seria uma vergonha exibir carne ao dependuro.

Ao longe, uns putos a comandar papagaios-de-vento, e eu a pensar: não sei como é que há caramelos que gostam destas manias! Mas enfim. Entre um pensamento e outro entretanto era noite e hora de regressar à terrinha, até porque, se a mãe dela sabe disto, era uma vez o Bilinho. Antes de montar na Yamaha, dei duas voltas a ver se algum filho da mãe deixou lá as marcas digitais. Estava tudo normal. Dessa vez não foi preciso passar a camisola no símbolo. Na volta, para lhe mostrar que tenho mãos e sou bem orientado na vida, fiz um pequeno desvio e, hora do caraças que me lembrei em fazer isso. Numa estrada bem secundária, um pneu furou, o que alterou a porra dos planos todos. Passados minutos, a lua ficou por cima de nós e as estrelas contámo-las uma por uma. A Lice tremia e tentava emitir uns sons esquizofrénicos com a garganta. Só pensava na mãe. Eu também pensava na mãe dela. Mas pensava mais nos dois irmãos dela, que são dois capangas que trabalham no matadouro a matar vacas e porcos, onde o sangue faz parte do dia-a-dia. Uma vez avisaram-me, um dedinho só, se lhe tocas com um dedinho…Depois fizeram em sincronia olímpica aquele gesto com as mãos a simular esganamento do pescoço. Esta imagem fez-me sossegar os ânimos assim como qualquer tentativa de praticar respiração boca a boca. Salvou-me ter contado para cima de um milhão de carneirinhos para adormecer. E dormimos, os dois, um para cada lado. O dia chegou com ruídos pouco habituais. Eram pessoas em volta de mim, aos gritos, a chamarem-me de gatuno, violador. 
Uns, prontos a pegar em paus, outros arrastando-me pelo pé, para me desancar. Uma cena diabólica para uma manhã sem fins lucrativos. De facto, a Lice estava manchada de sangue lá pelas partes, como se tivesse levado sei lá quantas facadas. Perante aquela situação eu estava literalmente fo-di-do. Sem justificação possível. Para me incriminar ainda mais, a Lice fazia uns gestos tão sem nexos que as pessoas achavam mesmo que eu teria violado o raio da muda. Alguém disse conhecer a rapariga e que ia já-já ligar para os irmãos dela. Pensei, pronto, estou feito. Nem em dois minutos eles chegaram e, mal viram o sangue lá para os lados das virilhas, supuseram que eu havia desvirginado a irmãzinha deles. Resultado: um murro nos queixos e outro na barriga. O resto foi com a polícia, a ser levado para o quartel para explicações. Eu apenas dizia, em sofreguidão, nem um dedinho, nem um dedinho. Por sorte minha chegou o paramédico que, ao ver os vestígios de sangue na roupa, percebeu de imediato que esse sangue era referente ao período menstrual. Bufei de alívio. E mandaram-me embora sem direito a curativos ou palavras mansas. Com estas e com outras havia perdido a manhã e a hipótese de vencer o mundo. Na rua, a Yamaha esperava-me com os seus faróis cansados, a pedir-me aceleração. E assim foi. Montei-a, senti-lhe o depósito nas pernas, e fizemo-nos à estrada. A vida é uma cena dos diabos, não vale um pneu furado, pensei, enquanto levava com o ar na cara, apostado na certeza que: enquanto houver estrada, não troco, não troco e não troco, esta Yamaha por mulher alguma!

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Atenção: vírus da perspectiva!!!


Atenção: descobri recentemente um género de pessoa de aparência normal, pessoas que saem de casa para os seus empregos, andam no meio de nós, alguns têm filhos, outros têm queda para jogos de mesa, que são: os Dependentes da Perspectiva! Passo a explicar: é alguém possuído por um bicho-de-sete-cabeças. Vou tentar explicar melhor: os dependentes da perspectiva, embora não coloquem a vida dos outros em causa, são seres que vêem o mundo de ângulos diferentes daquele a que estamos habituados. Vejamos os exemplos. Em plena luz do dia, andei pelas ruas para encontrar alguns destes seres misteriosos e olhem e pasmem-se com o resultado da análise:

- Bom dia, então você tem a dependência da perspectiva.

- Agora não, mas fui um grande perspectivador. Perspectivava por tudo e por nada. Não havia perspectiva que eu não perspectivasse. Uma loucura!
Na época em que me iniciei, isto há vinte anos, éramos só uns poucos, agora o mundo está como está, toda a gente perspectiva-se e não há nada a fazer. Aliás quem nunca se perspectivou que atire a primeira pedra!

Depois encontrei uma senhora bem dotada da cintura:

- Ó meu menino, dantes perspectivava que era uma coisa doce, agora, com tanta perspectiVânia por aí, faço só umas perspectivazinhas de vez em quando. É a vida sabe.

Pois…o certo meus senhores, é que a perspectiva tornou-se num fenómeno a nível mundial, podemos ter a sorte de sair à rua e encontrar um dúzia de tóxico-perpectivadores, mas não é fácil não. Não é porque eles isolam-se e só saem cá para fora quando a perspectiva é alta. Fora isso, ficam em casa a ressacar de perspectivâncias. Noutra rua mais abaixo encontrei um sem querer: - Amigo, e perspectivas?

- Ó pá, deixa-te de perspectivações! O Tony é que tinha razão, pá, quando dizia, ó palerma, perspectivas há muitas! Mas infelizmente, pá, foi-se, teve uma perspectiva aguda e caiu para o lado. Certo que ele também abusava, pá, começava logo de manhã a perspectivar e só parava, pá, quando ficava perspectivamente fixe. Eu bem lhe dizia, Tony, não te perspectives tanto, pá. Mas que querem, não me deu ouvidos e perspectivou-se todo.

Eu cá por mim vou perspectivando de mansinho, pá, que é para não tropeçar numa perspectivazeca qualquer.

Outro perspectiviólítico:

- A perspectiva não existe! Isso foi um modus operandis para controlar as mentes dos pequenos perspectivadores. A minha tese baseia-se num único pilar, A Respectiva, que é prima da perspectiva, mas só que não faz é tão mal à cabecinha.

- E já agora, Deus existe?

- Bem, isso já depende da perspectiva. A respectiva neste caso não mete o nariz por causa dos efeitos retardados.

- Não entendo…

- Não é fácil, não senhor. Tenho debatido arduamente sobre estas duas questões fundamentais e espero que daqui a poucos anos a ordem cientifica aprove o diploma. No fundo, a respectiva anula o efeito da perspectiva. Ou seja, quando alguém está com aquela perspectivez toda, imediatamente dou-lhe com a respectiva Respectiva, e o caso fica por aí.

Depois um padre com crises de vocação:

- Nem me fale nisso, ó alma perdida! Com tantos perspectivays por aí que o mundo vai acabar por ir para a casa do perspectivalho. Isso é obra do demónio! Saiba que no velho testamento já dizia: não te perspectives com o alheio!

A um adiantado mental:

- Boas, e a perspectiva?

- Perspéquê? Eu conheço-o? Onde tá a minha mãe? Socoooorrro, está aqui um perspectizóide a querer-me perspectiçar!

Como vêem, estes foram alguns exemplos daquilo que lentamente vão endrominando as cabeças do séc. XXI. A perspectiva entra e sai sem que ninguém se aperceba. Você sabe lá se a senhora que lhe põe o café à frente dos olhos não será também ela uma perspectivazona com perspectivas de. Aviso: há que ter atenção a este novo olhar sobre todas as coisas, pois é como um rio que vai crescendo sem ninguém dar por nada e, o que não falta por aí, são seres com vontade de nos ver pelas costas e perspectivar-nos.
Em suma, não se deixe ir pela manada, reze para que nunca lhe sobre uma, nem perspectivazinha sequer. Ponha-se ao largo quando alguém lhe vier perspectibasófias, certifica-se que não entrou em contágio de espécie alguma que é para não cair em perspectivófobia.

Por isso é que eu, pelo sim, pelo não, quando alguém se me aproxima e pergunta-me: Flávio, e perspectivas para o futuro? Apenas respondo: NENHUMAS!!!