terça-feira, 23 de março de 2010

A culpa é do Bilinho

Estou triste. A Tatiana ligou-me a dizer que esta noite não ia haver nada p’ra ninguém. E eu, que toda a noite sonhara com o filme sobre o que podia acontecer entre nós dois, sobretudo no sofá que, segundo ela, veio lá das índias. O meu pensamento perdeu a cápsula, assim que ela me disse: ó pá, infelizmente não me dás boas energias. Ouvido isto, foi possível detectar a milhas um fumo negro a sair-me das orelhas. É que ela nem deixou concretizar o meu mas…, desligou de imediato, causando uma febre mitológica algures no peito. Energia, não lhe dou energia? Fiquei logo com o caralho do dia estragado. Afinal de contas a Tatiana é uma preciosidade, uma preta que mexe bem as ancas e com muita sabedoria para assuntos de astrologia, ao qual eu, jorginho para as amigas, me predisponho a ouvi-la em troca de uns vinte minutos de carícias pela espinal medula.

Levantei-me abstracto da cama, com uma pasmaceira filha da puta, como se acordasse no meio de um estádio de futebol com as equipas em jogo. Eu ali, indefeso e nu, na minha cama napoleónica. Simplesmente horrível. Nem é bom pensar. O Bilinho ligou-me a contar umas coisas que eu não entendi puto. Dava a sensação que estava a perder a virgindade e a tentar relatar o acto em austro-húngaro. Disse-lhe: Bilinho mantém-te calmo. Olha, o melhor é passares aqui em casa. Ok, respondeu-me, num tom de asma. 
Enquanto esperava que ele viesse, levantei-me da cama, vi no espelho que continuo a mesma merda, vesti a minha jaqueta preferida, fiz umas torradas e aqueci um leitinho para não ter que gastar guito na rua. Afinal de contas, a vida está ruim, para não dizer f*. Soube pela televisão que o cabrão do meu ex-patrão falecera de traqueotomia ou lá como se chama.
Nunca uma morte me saiu tão cara. Foram trezentos e tais euros que não deram à costa e foram pró caraças. Ainda pensei ir ao funeral cuspir na campa dele mas, nesse segundo, o Bilinho bateu à porta. Mandei-o entrar, enquanto eu, na casa de banho, metia a rodilha da camisa para dentro das calças e dava umas sapatadas no rosto como quem diz, vamos à vida! Na sala espantei-me ao ver o Bilinho com duas muchachas bem-parecidas. 
Quem diria que aquele branquelas de sessenta quilos era capaz de uma proeza destas. Apresentou-mas. A Joana, cabeleireira, e a Ruth, fisioterapeuta. Da minha boca irónica escapou-se: pois, pois. Contai-me coisas, disse-lhes, ao mesmo tempo que apontava para o sofá para se porem à vontade. O Bilinho friccionava as mãos num contentamento que eu sei lá. Já eu, mordia a mosca que deixei crescer no lábio inferior.
Mandei-as falar abertamente. Elas começaram a dissertar sobre o amor que as une. Uau!, o assunto começou a interessar. Depois disseram que queriam dar à luz um filho cada uma. E que precisavam de dois voluntários. Mas que obedeçam a determinados parágrafos. Como assim?, perguntei-lhes. Têm de ser homens fortes e inteligentes!, responderam em uníssono. O Bilinho de pronto se ofereceu, dizendo que tem uma pós em artes modernas. Só que os seus sessentas quilos não as fizeram convencer. Talvez a ideia fosse em eu fazer o caldinho às duas, sei lá. Fiz-me de difícil. Afinal de contas não é todos os dias que aparece alguém com habilidade para fazer dois filhos de uma assentada só. Começaram a dizer que a vida vai mal e, coisa e tal, tal e coisa, acabei ficando em pele-de-galinha. Bem, vocês conhecem-me, né, não posso ver ninguém a passar mal, quanto mais duas relíquias daquelas tão guapas. Mal dei o ok, vocês haviam de ver, as moças sorriram como verdadeiras puras donzelas, arreganhando os faqueiros. Já sem mais para quê, em câmara lenta, despi o casaco, desapertei os primeiros botões da camisa, depois o das calças, o Bilinho expectante que alguma coisa lhe sobrasse, quando, bem pertinho delas, de lhes trespassar este meu chilreio de macho, tanto a Joana como a Ruth, ora foda-se, espetaram-me com dois frasquinhos nas mãos que iam para agarrar mas nada agarraram a não ser os frasquinhos que, segundo elas, bastariam umas gotinhas. Bolas!, na hora fiquei obtuso mas, como homem de pulso que sou, peguei numa revista de carros e fui para o quarto fazer o serviço. Enquanto isso, o Bilinho fazia as hostes da casa servindo-lhes um chá afrodisíaco, contando-lhes ao ouvido a versão adulta do capuchinho vermelho. Meia hora depois, saí da porta com os dois frasquinhos em punho, e disse: Habbemos Papa(i)!

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