segunda-feira, 2 de maio de 2011

Ai os Homens

Desta vez é que foi a gota de água. Não lhe perdoou nem um milímetro e, antes que a família metesse bedelho, tratou logo de lhe pôr as malas à porta, a esse bandido infiel, que chega a casa com o cheiro de outras. 
Oh! quantas já não teriam sido. O Leonel havia pisado o risco várias vezes, mas desta vez foi do lado de fora, ao que a sua querida esposa, farta de jogos de cintura, fez o que havia de ser feito, porta fora! 
O Leonel quis à sua maneira pôr as coisas a pratos limpos mas era tarde demais para limpezas espirituais ou algo do género, pois uma vez, vá que não vá, mas agora, várias?, nem que venha o diabo pedir clemência, com aquele monte de esterco na sua cama é que não mais. Não é não!
O certo é que, com estas e com outras, a sopa azedou e, «desculpar, só depois de morta. Assim não pode ser, cada um para o seu lado e pronto»
O melhor que a vida tem é que existe sempre pelo menos dois caminhos. As ilusões comem os melhores sonhos e depois, dos pequenos sonhos, ficam as tripas a ver-se. A Rosa não quer o pouco nem ou mais ou menos, quer o certinho direitinho. E, uma vez sozinha, tratou de arranjar outro alguém para lhe aquecer o bife, para quem sabe, talvez um dia casar.
Artur era o seu nome, um rapaz que só tinha olhos para a pesca, que fim-de-semana sim, fim-de-semana não, lá iam os dois, de farnel bem apetrechado, fazer uma grande pescaria. Era bonito vê-los, sorrindo como duas crianças que desconhecem o futuro. E o amor era verbo que andava de boca em boca. Felizes, viviam no sétimo andar da felicidade. Só que o Artur gostava pouco de vergar a mola, e o trabalho só o via de longe. E os dias passava-os em casa, enfiado nas internetes. Como se a vida fosse apenas isso. 
O amor começou a entrar por vias desconhecidas, e a Rosa, embora quisesse salva-lo, não podia ser, não podia ser, e num berro mandou-o de volta para a casa da mãe dele, pois ela que o sustente. 
E assim, outra vez só e a desejar que os homens não sejam todos iguais. Pela vizinhança cochichavam que a Rosa não tem a sorte desejada com os homens, que a sua sina talvez fosse essa, não acertar em porra alguma.

Depois do Artur veio outro, que não andava na noite nem era mandrião mas que pelos jeitos gastava tudo o que ganhava em casinos, e tinha dívidas aqui e acolá, um horror. Também não aguentou que lhe viessem bater à porta para lhe mostrar mais um pagamento em atraso e, em vez do anel prometido, deu-lhe antes com os pés. Foi preciso o primo direito dela, o António, um mocinho que estudou para ser enfermeiro e que tem um coração do tamanho do mundo, apresentar-lhe o Claudinho, amigo de trabalho, com uma honestidade acima da média, de passado limpo e com alegria na voz, para o amor funcionar. Só tinha um senão: fazia o turno da noite alguns dias da semana.
Mas isso era o menos e o amor supera tudo e arranja sempre um tempinho para o que bem entender. 
Bem, o mais importante foi a química estabelecida entre os dois pombinhos que, quem os visse, diziam que foram feitos um para o outro. Sempre tão agarradinhos e com beijocas para dar e vender. Não havia nadinha a apontar. O Claudinho era daqueles que parecia ter sido feito de encomenda, um jackpot.
E a Rosa saía de casa mais contente que a Pipi das Meias Altas, sabendo que ele faz de tudo lá em casa, tem mãos para tudo, desde o passar a roupa a ferro até à culinária, onde faz brilharetes. Ela chegava a casa ao fim da tarde e tinha tudo prontinho na mesa. A felicidade que se conta é bem maior do que aquela que escrevo. Os pensamentos estavam voltados para o lado mais feliz da vida. A vizinhança não tinha que dizer, era um bom homem, sim senhor, que tomara a muitas ter um homem assim como o Claudinho, que ao anoitecer saia de casa para ir trabalhar, chegar de manhãzinha, e mesmo assim, põe tudo em ordem. ao fim da tarde, a Rosa chega do trabalho, recebe-a nos braços com toda a sua delicadeza, fica a fazer horas no colo dela, a contar-lhe as últimas, liga para o António a perguntar se já vem a caminho, pois vão os dois no mesmo carro para poupar no combustível. A Rosa despede-se do seu querido amado com um beijo tão forte que o deixa a sorrir ingénuo e feliz. Depois vai à janela para lhe atirar um chocho. Quer vê-lo, até sair do ângulo de vista. 
Lá em baixo está o António,  fulo, esperou mais de cinco minutos pelo amigo, faz o carro arrancar a todo o gás, pergunta-lhe se a Rosa ainda está à janela, ele diz-lhe que não, pergunta-lhe se tem a certeza, o Claudinho volta a olhar pelo retrovisor e diz-lhe outra vez que não; o frio já não faz tremer, a noite está no ar, as mãos na perna um do outro também, vão pela estrada fora, as estrelas acendem-se uma a uma, e por fim, salvos, encostam o carro e beijam-se calorosamente cheios de saudades.

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