terça-feira, 12 de janeiro de 2010

Crónica dos Quase

Vocês nem queiram saber, mas quase que não escrevia a tempo esta crónica, pois quando estava para atravessar o atlântico numa jangada, ainda a poucos metros da encosta da Apúlia, quase que era apanhado por uma baleia branca. Depois vim a saber que era um mergulhador à procura de vestígios da sua última relação com uma ostra.
Por isso decidi voltar.
E saibam que quase eu não me apanhava em casa.
Por jeitos eu tinha ido comprar fósforos e, pelo caminho de Santiago, quase me cruzei com um bombista da Al-Qaeda que, por sorte minha, deu-lhe uma súbita vontade de urinar.
Você pode nem acreditar, assim que acendi um cigarro a Cláudia Shiffer veio-me pedir lume. Senão era ela, quase que era. Por ser tão loira que fiquei encandeado na sua beleza. Há quem diga que nem o Photoshop faria melhor. No outro dia quase morri. Sério! Assim que o dentista me disse quanto era. Ó, o quanto desejei de novo a dor de dentes. Saí do consultório com uma neura que quase me dava o tal treco que o psiquiatra vem anunciando.

Se não fosse um número e uma estrela no euromilhões eu quase que ganhava muitos amigos. Tantos que eu quase que nem os saberia contar nem saberia de onde vieram, assim tão do nada.
O meu amigo Pedro quase que apanhava a sua namoradinha com outro, o azar dele é que manca mais que a minha avó e demorou muito a lá chegar. Ela sempre foi muito largada. Inclusive uma vez ela me quis beijar mas, enquanto eu me lembrar da ferradela no queixo, jurei nunca mais. Se não fosse aquele lance, o Benfica quase que se consagrava campeão nacional. Tive pena. Tanta pena que acabei por ganhar alergia e, sempre o meu clube perde, espirro até dar com pau.

Depois quase que caí de cu quando me disseram que a do terceiro esquerdo em tempos fora domadora de jibóias. Passei a ter mais respeitinho, não fosse eu acordar com uma cima do papo. A minha vida é isto e quase que era aquilo se não fosse no outro dia descobrir que afinal aquela era aquele. E logo eu que sou macho bem comportado quase tropeçava nos seios dela, aliás, dele. Por sorte naquela cena de pancadaria não me feri, só tive foi de dar o nome completo à polícia.

Ai amor que quase torcia um pé. Ai mãe que estou quase sem dinheiro!
Ó mãe, o pai quase me bateu! Eu quase que era príncipe, isto é, se o meu pai fosse rei desta merda toda. Sabias que o André quase nasceu preto?
A bebida quase me fez mazela no fígado. Ela quase me sorriu. Os sapatos quase me serviam. Quase que ganhava a aposta na corrida dos cavalos, se não fosse ao número sete dar-lhe um ataque de cio.
Ele quase que dizia não no dia do casamento. Eu quase que dava em inteligente se na quarta classe não tivesse sido chamado para a tropa. A Mariana quase se matou de amor pelos meus beicinhos. Eu quase que não nascia, foi preciso a minha mãe dar um grito, com um insulto lá metido, quando o árbitro assinalou fora-de-jogo num lance que podia dar golo ao Benfica.

No outro dia quase me borrei nas calças. Ela quase que ia virgem para o casamento!
Patrão, estou quase a chegar! O país está quase-quase a andar para a frente.
Aquele carro quase que me limpava o sebo. Tenho muitos, mas mesmo muitos quase amigos. O que está a dar é ser quase. Chiça, ela quase que dizia que o filho era meu.

Foi por quase, pá!
Se eu não tivesse ginástica suficiente, ela quase que me partia a espinha. Ai mulher que aquele bicho quase me ferrou! Sabes, estive quase a mandá-lo pró carvalho. Ui que a bola quase que entrava na baliza. Ai que o mar quase que me engolia. Ai Maria que trabalhar na França é quase o demónio.
Ai que quase lhe dava uma coisa má. Ai que o meu primo esteve quase a dar o badagaio.
 Ai que o primeiro-ministro quase que ia preso!
O Paulo Gonzo também disse: dei-te quase tudo (ou dói-me quase tudo?). Por estas e por outras é que eu quase escrevia uma crónica.


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