sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Só uma coisa se compara aos prazeres da cama: que é a sanita. venham doutorados, dramaturgos ou psicadélicos dizerem que não, mas, ó meus amigos, a sanita, o acto de sanitar, é, e aqui afirmo com convicção poética, um culto à humanidade! bem haja o seu inventor! sei que não acrescento nada de novo, pois toda a gente sabe que heinsten descobriu a fórmula da teoria da relatividade no momento alto em que puxava a retaguarda com uma ferocidade medonha, onde no seu pico máximo, gritou: e=mc, que, depois de ficar mais solto, aliviado o trânsito intestinal, suspirou: ao quadrado! e desta forma teve a sua eureka: e=mc ao quadrado. o senhor kafka, segundo notícias do sanatório, escreveu o Processo e a Metamorfose comodamente alapado na sanita, sem se preocupar com quem estivesse a seguir. não se surpreenda com estas revelações, eu próprio estou a escrever este texto com as naldegas numa retrete branquinha, enquanto espero pacientemente de fazer a minha vida. aliás, e desculpe o meu exagerado presuncionismo, pergunto: quem é que nunca leu uma página de livro, revista, carta de amor ou enviou mensagens pelo telemóvel enquanto arreia o calhau? quem é que nunca se sentou com o portátil nas coxas enquanto obra? é um prazer, você sabe que sim, a gente ali, em módicos pensamentos ancestrais, num auto-conhecimento, deitando por fora toda a tristeza, ora diga lá se não é. Mais: cagar é como o sexo: para bom funcionamento do corpo e alma é preciso quase um ritmo diário, um reloginho interno que, se falha por dois ou três dias, ah pois é, vai a nossa valentia para o tanas, e ainda por cima sujeitos a ser supositoriados.
aliás, esse equilíbrio é tão importante que, se houver greve em uma das partes, o nosso pensamento foge-nos para guerras frias.
saibam desde já que discurso de político também ele é feito dentro desta magia. nossos olhos viram para dentro, há um arrepio de pele, uma força cósmica nos queixos e pescoço quando puxamos por ele, o tal, que começa em ca passa por ga e acaba em lhão. meus amigos, este texto pode não ter poesia necessária, mas uma coisa vos digo: cagar é viver! e não se sensibilize, nem feche os olhos por ler o que leu, pois a vida termina no dia em que a tripa der um nó. dirão vocês que sou um desenvergonhado, que a minha literatura é feita de esterco. enganam-se aqueles que pensam que sim, já que a maior parte dos profetas antigos foram altamente iluminados antes e depois do tal acto que vos venho falando. é certo que a espiritualidade aumenta, a nossa comunhão com  as questões universais, idem aspas, a nossa relação com a literatura é um caminho de descoberta. vejamos, eu próprio descobri, por estes dias, no frescor da minha casa-de-banho, margarida rebelo pinto, o que me deu um enorme prazer, pois agora sei - e recomendo - que há géneros literários especializados em casa-de-banho. a TV7+ também tem boas crónicas para o efeito. a revista Maria, já não, pois tem um formato muito pequeno e as folhas têm uma textura que...sinceramente...arranha.
poderemos largar todos os vícios, negar os prazeres da amante, deixar de dar banho ao cão, mas, meus senhores, por mais bons costumes que tenhais, acabareis sempre numa retrete e, na maldita hora em que fizermos por nós abaixo, lá se vai o nosso Ser, a nossa metade, porque, enquanto tivermos forças para puxar, o nosso sorriso é de oiro.
nunca se esqueça: cagar é viver! e, quem diz que a vida é assim ou assado, não sabe o que diz, porque, como diz e bem o meu amigo poeta Laureans: “A vida é a única merda que vale a pena cheirar”.

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