terça-feira, 26 de julho de 2011

A minha Maria


Amigos, depois de escrever esta crónica vou directamente para a caminha onde tenho a minha Maria a aquecer os lençóis. Sinceramente, só de pensar que tenho a minha Maria prontinha para as minhas imaginações, está-me a custar no pêlo cada palavra que escrevo, pois cada palavra que aqui escrevo faz-me demorar e, se acaso demorar mais que uma cafeteira ao lume, a minha Maria adormece e não há nada para ninguém. 
Portanto, vou tentar ser breve ao máximo, consciente que compreendereis que a minha imaginação para escrever está nas lonas, fechada para obras, ou, para ser mais preciso, a minha escrita está como de um velho oitenta anos quando fala sobre sexualidade: fala, fala, mas não diz nada.
Amigos, não se admirem se me ausentar desta crónica repentinamente ou se vos deixar aqui pendurados num verso qualquer, onde as reticências farão o melhor que sei. Prometo, no entanto, que na próxima farei o meu melhor, já que, o pior é isto que aqui vêem: uma crónica sem sentido, despudorada, insignificante, palavras sobre um papel tal como uma planta sem terra. Estou aqui mas estou a pensar na minha Maria, que tanto sentido dá à minha vida, volta e meia dá-me a volta ao corpo na cama para ficar por cima, com a sua mão na minha a indicar-me o caminho da felicidade.

Hoje sim, era um daqueles dias que podia falar de futebol, mas oh meus amigos, eu de bolas só percebo de bolas de queijo, e nada mais! E quando a literatura se acaba, fica o desejo a meia haste. No fundo estou aqui a escrever por causa dos cinquenta euros que o jornal me dá e que muita falta me fazem para o que agora não me lembro, ou não quero recordar.
Tenho essa liberdade, de escrever não escrevendo. Fazer de conta que. E tenho amigos que admiram esta minha farsa, por ser dócil e não ter más influências. Dizia, daqui vou directo e literalmente para o colinho da minha Maria. 
Não para lhe catar piolhos ou fazer cóceguinhas nos pés, mas sim para lhe mostrar a luz viva dos meus olhos por debaixo dos lençóis. Se esta noite morrer, já sabeis do que foi: afogado em mim. A minha Maria é igual à Maria de todos os homens. Gosta de jantares românticos em que sejamos nós apagar a conta. Usa tacão alto para mostrar que está crescida. Bebe champanhe em pequenos goles porque a velocidade é inimigo do estômago e do dinheiro. Tenho feito muitos jantares românticos com algumas Marias deste país. E isso tem-me levado a ligar ao director deste jornal para que me adiante algum guito em troco de umas boas crónicas prometidas.

A minha Maria - que não é santa mas cura-me - está ali na porta ao lado, com certeza nua, a desejar que termine esta prosa para lhe dedicar outro tipo de versos, escritos à língua. Pudesse eu abreviar este texto numa só palavra e lucrar tanto como se escrevesse em todos os Homens. Podia ser a palavra amor, sexo ou pátria, tanto faz. O problema é o director do jornal, esse gigante atraente, que só me dá os cinquenta euros quando concluir este texto.
Para mal de mim, na redacção estão a exigir muito, pedem-me que meta sangue nas palavras, rodízios de amor, triangulações de amor. Para bem de mim, os cinquenta euros fazem-me cá um jeitaço danado, dá para ressuscitar pela milésima vez.

E depois a minha Maria que não é Maria que vai com as outras, está ali deitada, a sonhar com hortelãs, a adocicar a pele para que a minha boca fique doce também. Espera-me assim, com os desejos todos reunidos ao centro, a torcer-se para ambos os lados. Bem, tenho de ir. Lamento não ter escrito todos os pormenores de uma vida, mas ainda assim gostaria de sair de cabeça erguida, a haver aqui pelo menos um verso que sirva para letrinha de canção, um sonhar, um pouco de tinta fresca para pintar o tempo. Mas por favor, depois deste texto não me atirem à cara a fraqueza aqui descrita, nem façam troça da minha Maria que, coitada, também ela precisa dos cinquenta euros para se governar. Não é muito nem é pouco. São cinquenta euros a abrir um sorriso. É o preço que a minha Maria leva para que possa dizer que ela é minha e eu sou dela. Pelo menos esta vez, esta noite, porque amanhã é outro dia e eu, cronista insaciável, tenho de ir varrer estradas pelo dia fora. E quando chegar a noite, por esta mesma hora, escreverei à minha Manuela, à Paula, à Teresa, ou então à minha Joaninha do quarteirão mais abaixo, que todas me amam e me querem, pelo módico preço de uma crónica. Não é muito nem é pouco. São cinquenta euros, e é tudo o que peço, para ser feliz por mais ou menos três quartos de hora.

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