sábado, 13 de fevereiro de 2010

pôr a escrita em dia

Mais que os sonetos da Florbela Espanca - que deixam a minha querida alma num estado lastimoso -, o sexo, o depois de, inspira-me muito mais que um livro qualquer. Por tal saber, sempre procurei inspiração no colinho da Matilde. Enquanto ela, em suaves círculos me vai aquecendo os motores, eu, poeta de tactos percorridos, mentalmente vou fazendo a rodagem ao pensamento. Para uns, o após-sexo dá apetite, para outros dá vontade de dormir a sesta, já comigo, fico com gana de escrever. Das últimas vezes deu-me para escrever livros de contos infantis. Vocês sabem que sempre pensei nas crianças, mas à distância. A Matilde tem um filho que, quando vou lá a casa, quer brincadeira comigo, mal ele sabe que o que levo na ideia são outros tipos de brincadeiras. A Matilde, trinta anos no cose e descose relações, diz-me, vá lá, brinca um bocadinho com o rapaz. E, lá terá de ser, se quero o rebuçado tenho de me fazer por ele. Só que o puto é um chato do triatlo.

Por ele ficávamos manhã tarde e noite a brincar aos polícias e ladrões. Quando eu e a Matilde estamos naquele ponto em que as crianças não podem assistir, pronto, lá vem o fedelho bater à porta. Solto um berro, pira-te! E debruço-me outra vez sobre o assunto das duas montanhas. Depois mais outra vez a chamar pela mamã a perguntar-lhe onde está o pijama. E eu passo-me, perco oitenta por cento das vontades inerentes à minha profilaxia. Desculpem mas, há momentos em que me apetece meter-lhe cinquenta pastilhas elásticas na boca e, porra, que pare de me tratar por tio! Pois não há berlaitada que consiga dar sem que não seja interrompido. Vocês sabem que detesto ser interrompido!

O outro (para quem não saiba, o Fernando Pessoa), disse que as crianças são o melhor do mundo, mas disse-o porque nunca os teve. Pois se ele tivesse um fedelho por perto no momento em que escrevia as cartas de amor à Ofelinha, eu queria ouvir todos os seus pseudónimos acirrados. De facto, o sexo inspira, faz-nos dizer as coisas a modos cristalinos. Sem sexo a poesia não tem valor nenhum. Todo o poeta precisa de uma boa dose de inspiração, logo, tem de dar muito à manivela. Não é para me gabar mas, dantes, graças às minhas mãozinhas, eu vendia inspiração. Agora, tenho andado às voltas a escrever um romance, uma coisa sobre trocas e baldrocas de amor e sexo, o que me deixa deveras agoniado por não poder participar no enredo.
O certo é que não ando lá muito inspirado, há seis semanas que não escrevo uma puta de uma linha. E tudo desde que a Matilde me acusou da falta de talento para fazer amor com ela dentro do guarda-vestidos. Ela devia de saber que nunca fiquei curado daquela maldita asma que desde puto me põe a fazer vaporizações. Enfim, terminámos na página oitenta e três do Kamassutra e, desde esse fatídico dia que deixei de ter inspiração. O meu editor disse-me, inclusive, se eu quisesse uma mãozinha era só telefonar. Eu disse, não, não! Agora, ando por aí, à procura de ideias, visitando os meus álbuns de fotografia e a recordar a Paulinha que muitos sonetos me fez sonetar à luz do barracão do pai dela. A Teresinha que meu deu asas para que escrevesse uma ode às suas pernas lisas. A Joana, que relatou a sua vida nas entrelinhas dos meus cabelos do peito.

Haja um pouco de compreensão. Sou um poeta de pedigree, logo, faço um apelo às mulheres dos meus escritos, para que voltem, que o tamanho não interessa, prometo que vou largar aquela mania de sintonizar estações de rádio nos biquinhos delas, ou que, vendo bem as coisas até gosto de ser tratado por tio, pois eu preciso urgente é de uma musa (não dura mais que uma hora), para pôr a minha escrita em dia!

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