quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Foi numa consulta de rotina, quando nada se previa, o médico do morto disse-lhe, sem dar voltas à gramática:
- Você tem apenas oito dias de morte!

O morto, incrédulo, pois ainda pouco gozara a sua tão querida morte,  ao saber que daqui a nada vai viver, não conteve a sua revolta e deu um soco na mesa do consultório:
 - Doutor, tem que fazer alguma coisa por mim!
- Infelizmente, fiz tudo ao meu alcance e, no máximo de 

Oito dias, o seu coração começará a bater.
O morto saiu à bruta do consultório, entrou no primeiro bar e enfrascou-se com tudo o que havia de mais de noventa por cento de álcool, meteu-se debaixo de carros pesados, seringou-se, atirou-se de vigésimos andares, atado a frigoríficos, mas o destino estava traçado. Não conseguia ficar morto. Tentou falar com Deus a ver se pelo menos o extraditavam para o Inferno, mas, feitas as contas aos seus pecados, tal pedido fora deferido.
Ao oitavo dia, em sua casa, o morto esperava com agonia a chegada da Vida, gozando os últimos prazeres da morte, olhando o paraíso pela janela da sala, fazendo flash-backs daquilo que era e como era a sua vida lá em baixo, o ter de começar uma vida nova, enfrentar os seus credores, as ameaças... 
Quando a Vida lhe bateu à porta já o morto se tinha pisgado pelas traseiras da sua casa. E desde então anda à deriva no céu, por saber que o querem morto ou vivo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário